10 de dezembro de 2016

O que acontece com pastores que são excluídos ou desligados de uma convenção?

O que acontece com pastores que são excluídos ou desligados de uma convenção?


Desde janeiro de 1989, quando assumi o meu primeiro campo de trabalho, tenho-me deparado com várias situações de obreiros e pastores em geral sendo disciplinados, excluídos ou desligados. A exclusão é bíblica, a disciplina também.

Acredito que cada igreja tem a obrigação de agir dentro dos padrões bíblicos em todos os assuntos relacionados a ela. É verdade que cada caso deve ser examinado com muito cuidado, imparcialidade, amor e determinação pela comissão ou quem ficar responsável por analisar denuncias contra algum obreiro. 

Desde o Antigo Testamento, Deus estabeleceu algumas regras para tratar de acusações e delitos cometidos: uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato.  DT.19:15. Uma só pessoa não será suficiente para condenar alguém. Precisa de pelo ao menos duas ou três testemunhas acusatórias. Isso dá mais garantias e veracidade, em uma justa condenação.

Quero me deter apenas em relação aos ministros (pastores e evangelistas) e não em casos de membros das igrejas. Pois os ministros estão em destaques por serem líderes.
Mais a questão  que trataremos não é a veracidade dos fatos acusatórios e sim, algumas situações:
1.       A quem interessa a punição de um obreiro, ou ministro?
2.       Deve ele ser destituído imediatamente de todos os privilégios que outrora o cargo lhe proporcionava?
3.       O que acontece depois da sua disciplina? Há critérios de restauração?
4.       O que muda em sua vida pessoal, familiar e fraternal?
5.       Quem estabelece o retorno ou não, desse ministro?
6.       Há fatos bíblicos paralelos de homens de Deus que pecaram e foram restituídos?
7.       O que de fato acontece hoje nas igrejas e convenções?

Analisando a primeira questão: A quem interessa a punição de um obreiro, ou ministro?

A disciplina não é um castigo. Na realidade,  é uma dificuldade permitida por Deus para desenvolver em nós um caráter piedoso.  É a expressão do amor de Deus. Às vezes dolorosas, mas necessária. Se não houvesse disciplina, como viveríamos?
Segundo a Lei, Davi deveria ser morto a pedradas, mas isso não aconteceu. Por que?
Quem iria apedrejar a Davi? Quem iria disciplina-lo? O que Deus fez?
Não podemos, no entanto, dizer que ele não foi punido, pois Deus o castigou:
1-  Morreu o filho fruto do adultério. 2º Samuel 12.14
2- Tamar foi violentada por Amnon. 2º Samuel 13.1-14
3- Amnon foi morto por Absalão.2º Samuel 13. 28-29
4- Absalão Tomou o reino e perseguiu a Davi, além de Adulterar com as concubinas de seu pai.          2º Samuel 13. 20-23
5-  Morreu Absalão. 2º Samuel 18,9-15
6- Após a morte de Davi Salomão mandou matar o seu irmão Adonias. 1Reis 24-25

No caso de Davi, o próprio Deus tomou conta do caso. Ele é o Juiz de toda a terra.
Mas no caso de pastores, quem deve cuidar desses assuntos? Se ele pertence apenas a um ministério sem convenção, o ministério (Demais pastores e obreiros), devem acolher as provas e, comprovadas, devem haver uma disciplina sim. Mas neste caso os “juízes”, devem ser imparciais e isentos de questões pessoais, vidas exemplares  e capacidade de analisar o caso. A disciplina deve ser proporcional à falta.

Há um tema que ainda não vi ser tratado nos estudos bíblicos, convenções ou livros: A igreja tem poder de perdoar um pecado grave e dar-lhe oportunidade de recomeçar?  Ou tudo deve haver disciplina?
Se  o ministro é convencional, os “juízes” devem ter as mesmas características supracitadas. Mas infelizmente, os julgadores nem sempre agem dentro da lisura. Soube recentemente de um ministro que foi excluído por uma convenção, por que recebeu, por uma rede social, fotos de uma jovem despida, e ao repreendê-la, disse ele, que a mesma era “danadinha”. Na plenária, ao confessar o seu pecado, e pedido perdão, foi excluído sem misericórdia. Usaram a seguinte tática: os que aprovam a exclusão fiquem como estão os contrários se levantem. Resultado, ninguém se levantou, e o mesmo foi excluído, como se essa votação fosse comprar ou vender algum imóvel, e não se tratasse de uma vida ministerial.
Verdade é que anteriormente, na discussão, alguns se levantaram para persuadir os demais pastores a perdoa-lo e dar uma nova oportunidade. Mas foi em vão. Todos seguiram o pensamento maquiavélico do presidente: aos amigos, as brechas da lei,  aos indiferentes, a lei, aos inimigos, o rigor da lei. Resultado, a exclusão.

A segunda questão: Deve ele ser destituído imediatamente de todos os privilégios que outrora o cargo lhe proporcionava?

Imagine um pastor com trinta anos de ministério. Desde a sua juventude, embora casado, serve no ministério de tempo integral. E por algum deslize, comete pecado e é disciplinado. Perdendo assim o seu sustento, não preparou-se para o trabalho secular, e agora, excluído, sem apoio moral, financeiro, ou espiritual, como recomeçar em um trabalho secular com a mente frustrada, triste, e solitário?

Deveriam as convenções e igrejas, ter um lapso de tempo a cumprir, e ajudar este ministro e sua família a recuperar-se tanto financeiramente, como o emocional e espiritual, dele e de sua família. Se no Brasil, as famílias dos prisioneiros recebem auxilio reclusão seria demais as igrejas ou convenções, auxiliarem os seus ministros disciplinados?  Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. Mt. 5:20. Tal vez isso soe estranho aos ouvidos dos legalistas, mas não nos ouvidos dos que tem princípios cristãos.


Terceira questão: O que acontece depois da sua disciplina? Há critérios de restauração?

É muito triste, ver obreiros e sua família, sendo tratados como, piores que criminosos. Sem nenhuma perspectiva a vista, colocar a mente para funcionar e manter o equilíbrio emocional e espiritual é uma atitude dantesca.

Conheço alguns pastores que já tentaram o suicídio. Outros voltaram para o mundo e a família toda acompanhou. Onde está o cuidado com os de dentro? Recuperamos drogados, ladrões, traficantes, prostitutas e homossexuais, mas não recuperamos os nossos soldados feridos. Há muitos psicólogos na igreja e nas convenções, por que não encaminha-los? Há muito discurso, e pouca prática. Há muita emoção e pouco amor.

Quarta questão: O que muda em sua vida pessoal, familiar e fraternal?

A primeira coisa que acontece é um isolamento. Não da parte dele, e sim dos outros. Ele sente que os seus amigos fugiram, se isolaram, o abandonaram. Em parte isto é verdade. Conheço um certo pastor que foi perseguido e disciplinado injustamente, pois o mesmo não pertencia ao grupo político do presidente da convenção. Criaram uma situação tão desgastante pra ele que não teve alternativa senão, pedir o desligamento. Após quase duas dezenas de anos servindo ao Senhor, de tempo integral, agora, excluído, mesmo havendo pedido seu desligamento, ficou isolado. Ainda não se conformando com o que fizeram a ele,  desejaram a sua morte, nos bastidores. Os que se diziam seus amigos, nunca deram um telefonema para o mesmo. Segundo soube, apenas dois o visitaram, durante essa crise. Todos temiam aproximar-se dele, e sofrerem represálias e retaliações.

Essa situação vivida por este ministro retrata o tipo de evangelho que vivemos e pregamos, e os tipos líderes que temos. A família fica frustrada, triste, depressiva. Ele se sente desmotivado, pensativo, neutralizado, do jeito que os seus perseguidores queriam. A palavra amor e companheirismo tornam-se sem sentido. Os outros o veem como um desviado, com uma doença contagiante e mortal.
Quando isso acontece, os que ficam sentem-se mais santos que ele. Ele agora é tido como alguém perigoso, pecador, indigno de estar entre os “santos”. Até aqueles a quem ele ajudou na restauração, ministério e financeiramente, viraram as costas. Mas Deus que é misericordioso coloca na vida dele, novos amigos, novas pessoas, e novas perspectivas.

No começo se sente um coitado, derrotado, indigno, pior que os outros. Um lixo. Experimenta uma crise existencial sem tamanho. Todo o mal que existe no pensamento humano se aflora dentro dele. Questiona-se, avalia-se, e repensa nos novos passos a serem dados. Como conter a família e os pouquíssimos amigos que restaram?

Começa a rever alguns conceitos impostos por aqueles que eram considerados, exemplo de vida. Ensinamentos humanos e extra bíblicos são repensados. Porém o sentimento mais profundo e confuso é o silêncio de Deus. A sensação de injustiça e falta de misericórdia dos seus pares. Ele perde a confiança nas pessoas. Leva um tempo até para confiar em si mesmo. Mas Deus sendo misericordioso o auxilia, o trata, o renova e o levanta.

Quinta questão: Quem estabelece o retorno ou não, desse ministro?

Essa pergunta depende do seu retorno ao mesmo ministério ou mesma convenção, ou em outro ministério. Se for ao mesmo ministério ou convenção, quem o poderá decidir se ele deve ou não retornar?
Conheço um outro ministro, que pecou e ao ser excluído, perdeu todos os privilégios ministeriais e financeiros. Passou pela prova e com muitas dificuldades, retornou ao convívio ministerial. Porém não deram um novo campo. O seu pastor o tratava com desdém e humilhação. Ele não tinha a quem recorrer. Ninguém lhe dava confiança.

Infelizmente, há pastores que se sentem em uma posição ao lado de Jesus. Acima de todos.
Diante de tantos desatinos convencionais e ministeriais, já até questionei, se é necessário realmente uma convenção para pastores? Algumas convenções são piores que Câmaras de Vereadores. Inimizades, palavras torpes e linguajar inadequado; tramas e traições, amores e rancores, retaliações e armações são o cotidiano de algumas convenções e ministérios. Esquecemos de que somos servos e não senhores. Somos propriedades e não proprietários.

Sexta questão: Há fatos bíblicos paralelos de homens de Deus que pecaram e foram restituídos?

Há sim. Davi, Sansão, Jonas, Pedro, e outros. Todos estes tiveram uma segunda chance. Se fosse hoje nas nossas igrejas e ministérios, eles jamais retornariam. Salvos, se tivessem uma boa quantia de dinheiro para ajudar a obra. Infelizmente essa é a nossa triste realidade. Cada um lutando pelo seu próprio interesse.
Dai surge a sétima e última questão, sem querer esgotar o assunto:

Sétima questão: O que de fato acontece hoje nas igrejas e convenções?

Aconselho humildemente aos que desejam o episcopado: Busquem direção de Deus. Não entrem no ministério, sem a devida chamada de Deus, pois, se for chamado, Deus o capacitará. Mas se apenas desejar, não permanecerás, ou se tornarás iguais a ao joio.

Para os que estão fora do ministério cristão, eles nos veem como superiores mais santos e mais abençoados que eles. O alto padrão de vida de muitos pastores ostentando seus carros novos, suas casas confortáveis, suas participações em eventos de grande porte nas cidades, deixam muitos dos aspirantes ao ministério, com pensamentos impuros e avarentos. Lutam por posições, a ponto de até falsificar assinaturas e documentos para serem consagrados. Uma verdadeira babel.

Quanta fantasia, máscaras, inovações, brilhos e eloquências destruidoras. Quanta arrogância daqueles que detém o poder de colocar e tirar quem eles querem nos campos e igrejas. Não se admirem se virem pastores caírem endemoninhados nos púlpitos. Não se escandalizem se obreiros no terceiro casamento, forem consagrados a pastores e ocuparem cargos de destaque e importância no ministério. 


Estes são os escolhidos em vossos ágapes, quando se banqueteiam convosco, pastores que se apascentam a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos; são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas; 13 ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias torpezas, estrelas errantes, para as quais tem sido reservado para sempre o negrume das trevas.  14 Para estes também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor com os seus milhares de santos,  15 para executar juízo sobre todos e convencer a todos os ímpios de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram, e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram. 16 Estes são murmuradores, queixosos, andando segundo as suas concupiscências; e a sua boca diz coisas muito arrogantes, adulando pessoas por causa do interesse”. Jd. 1:12-16.



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