O que acontece com pastores que são excluídos ou desligados de uma
convenção?
Desde janeiro de 1989, quando
assumi o meu primeiro campo de trabalho, tenho-me deparado com várias situações
de obreiros e pastores em geral sendo disciplinados, excluídos ou desligados. A
exclusão é bíblica, a disciplina também.
Acredito que cada igreja tem a
obrigação de agir dentro dos padrões bíblicos em todos os assuntos relacionados
a ela. É verdade que cada caso deve ser examinado com muito cuidado, imparcialidade,
amor e determinação pela comissão ou quem ficar responsável por analisar
denuncias contra algum obreiro.
Desde o Antigo Testamento, Deus
estabeleceu algumas regras para tratar de acusações e delitos cometidos: uma só testemunha não se levantará contra
alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado
cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato. DT.19:15. Uma só pessoa não será
suficiente para condenar alguém. Precisa de pelo ao menos duas ou três
testemunhas acusatórias. Isso dá mais garantias e veracidade, em uma justa
condenação.
Quero me deter apenas em relação
aos ministros (pastores e evangelistas) e não em casos de membros das igrejas. Pois
os ministros estão em destaques por serem líderes.
Mais a questão que trataremos não é a veracidade dos fatos
acusatórios e sim, algumas situações:
1. A
quem interessa a punição de um obreiro, ou ministro?
2. Deve
ele ser destituído imediatamente de todos os privilégios que outrora o cargo
lhe proporcionava?
3. O
que acontece depois da sua disciplina? Há critérios de restauração?
4. O
que muda em sua vida pessoal, familiar e fraternal?
5. Quem
estabelece o retorno ou não, desse ministro?
6. Há
fatos bíblicos paralelos de homens de Deus que pecaram e foram restituídos?
7. O
que de fato acontece hoje nas igrejas e convenções?
Analisando a primeira questão: A quem interessa a punição de um obreiro,
ou ministro?
A disciplina não é um castigo. Na
realidade, é uma dificuldade permitida
por Deus para desenvolver em nós um caráter piedoso. É a expressão do amor de Deus. Às vezes
dolorosas, mas necessária. Se não houvesse disciplina, como viveríamos?
Segundo a Lei, Davi deveria ser
morto a pedradas, mas isso não aconteceu. Por que?
Quem iria apedrejar a Davi? Quem iria
disciplina-lo? O que Deus fez?
Não podemos, no entanto, dizer
que ele não foi punido, pois Deus o castigou:
1- Morreu o filho fruto do adultério. 2º Samuel
12.14
2- Tamar foi
violentada por Amnon. 2º Samuel 13.1-14
3- Amnon foi
morto por Absalão.2º Samuel 13. 28-29
4- Absalão Tomou
o reino e perseguiu a Davi, além de Adulterar com as concubinas de seu
pai. 2º Samuel 13. 20-23
5- Morreu Absalão. 2º Samuel 18,9-15
6- Após a morte de
Davi Salomão mandou matar o seu irmão Adonias. 1Reis 24-25
No caso de Davi, o próprio Deus
tomou conta do caso. Ele é o Juiz de toda a terra.
Mas no caso de pastores, quem
deve cuidar desses assuntos? Se ele pertence apenas a um ministério sem
convenção, o ministério (Demais pastores e obreiros), devem acolher as provas e,
comprovadas, devem haver uma disciplina sim. Mas neste caso os “juízes”, devem
ser imparciais e isentos de questões pessoais, vidas exemplares e capacidade de analisar o caso. A disciplina
deve ser proporcional à falta.
Há um tema que ainda não vi ser
tratado nos estudos bíblicos, convenções ou livros: A igreja tem poder de
perdoar um pecado grave e dar-lhe oportunidade de recomeçar? Ou tudo deve haver disciplina?
Se o ministro é convencional, os “juízes” devem
ter as mesmas características supracitadas. Mas infelizmente, os julgadores nem
sempre agem dentro da lisura. Soube recentemente de um ministro que foi excluído
por uma convenção, por que recebeu, por uma rede social, fotos de uma jovem
despida, e ao repreendê-la, disse ele, que a mesma era “danadinha”. Na plenária,
ao confessar o seu pecado, e pedido perdão, foi excluído sem misericórdia. Usaram
a seguinte tática: os que aprovam a exclusão fiquem como estão os contrários se
levantem. Resultado, ninguém se levantou, e o mesmo foi excluído, como se essa
votação fosse comprar ou vender algum imóvel, e não se tratasse de uma vida
ministerial.
Verdade é que anteriormente, na
discussão, alguns se levantaram para persuadir os demais pastores a perdoa-lo e
dar uma nova oportunidade. Mas foi em vão. Todos seguiram o pensamento maquiavélico
do presidente: aos amigos, as brechas da lei, aos indiferentes, a lei, aos inimigos, o rigor
da lei. Resultado, a exclusão.
A segunda questão: Deve ele ser destituído imediatamente de
todos os privilégios que outrora o cargo lhe proporcionava?
Imagine um pastor com trinta anos
de ministério. Desde a sua juventude, embora casado, serve no ministério de
tempo integral. E por algum deslize, comete pecado e é disciplinado. Perdendo assim
o seu sustento, não preparou-se para o trabalho secular, e agora, excluído, sem
apoio moral, financeiro, ou espiritual, como recomeçar em um trabalho secular
com a mente frustrada, triste, e solitário?
Deveriam as convenções e igrejas,
ter um lapso de tempo a cumprir, e ajudar este ministro e sua família a
recuperar-se tanto financeiramente, como o emocional e espiritual, dele e de
sua família. Se no Brasil, as famílias dos prisioneiros recebem auxilio
reclusão seria demais as igrejas ou convenções, auxiliarem os seus ministros
disciplinados? Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não
exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.
Mt. 5:20. Tal vez isso soe estranho aos ouvidos dos legalistas, mas não nos
ouvidos dos que tem princípios cristãos.
Terceira questão: O que acontece depois da sua disciplina? Há
critérios de restauração?
É muito triste, ver obreiros e
sua família, sendo tratados como, piores que criminosos. Sem nenhuma perspectiva
a vista, colocar a mente para funcionar e manter o equilíbrio emocional e espiritual
é uma atitude dantesca.
Conheço alguns pastores que já
tentaram o suicídio. Outros voltaram para o mundo e a família toda acompanhou. Onde
está o cuidado com os de dentro? Recuperamos drogados, ladrões, traficantes,
prostitutas e homossexuais, mas não recuperamos os nossos soldados feridos. Há muitos
psicólogos na igreja e nas convenções, por que não encaminha-los? Há muito
discurso, e pouca prática. Há muita emoção e pouco amor.
Quarta questão: O que muda em sua vida pessoal, familiar e
fraternal?
A primeira coisa que acontece é
um isolamento. Não da parte dele, e sim dos outros. Ele sente que os seus
amigos fugiram, se isolaram, o abandonaram. Em parte isto é verdade. Conheço um
certo pastor que foi perseguido e disciplinado injustamente, pois o mesmo não
pertencia ao grupo político do presidente da convenção. Criaram uma situação
tão desgastante pra ele que não teve alternativa senão, pedir o desligamento. Após
quase duas dezenas de anos servindo ao Senhor, de tempo integral, agora, excluído,
mesmo havendo pedido seu desligamento, ficou isolado. Ainda não se conformando
com o que fizeram a ele, desejaram a sua
morte, nos bastidores. Os que se diziam seus amigos, nunca deram um telefonema
para o mesmo. Segundo soube, apenas dois o visitaram, durante essa crise. Todos
temiam aproximar-se dele, e sofrerem represálias e retaliações.
Essa situação vivida por este
ministro retrata o tipo de evangelho que vivemos e pregamos, e os tipos líderes
que temos. A família fica frustrada, triste, depressiva. Ele se sente
desmotivado, pensativo, neutralizado, do jeito que os seus perseguidores
queriam. A palavra amor e companheirismo tornam-se sem sentido. Os outros o veem
como um desviado, com uma doença contagiante e mortal.
Quando isso acontece, os que ficam
sentem-se mais santos que ele. Ele agora é tido como alguém perigoso, pecador,
indigno de estar entre os “santos”. Até aqueles a quem ele ajudou na
restauração, ministério e financeiramente, viraram as costas. Mas Deus que é
misericordioso coloca na vida dele, novos amigos, novas pessoas, e novas
perspectivas.
No começo se sente um coitado,
derrotado, indigno, pior que os outros. Um lixo. Experimenta uma crise
existencial sem tamanho. Todo o mal que existe no pensamento humano se aflora
dentro dele. Questiona-se, avalia-se, e repensa nos novos passos a serem dados.
Como conter a família e os pouquíssimos amigos que restaram?
Começa a rever alguns conceitos
impostos por aqueles que eram considerados, exemplo de vida. Ensinamentos humanos
e extra bíblicos são repensados. Porém o sentimento mais profundo e confuso é o
silêncio de Deus. A sensação de injustiça e falta de misericórdia dos seus
pares. Ele perde a confiança nas pessoas. Leva um tempo até para confiar em si
mesmo. Mas Deus sendo misericordioso o auxilia, o trata, o renova e o levanta.
Quinta questão: Quem estabelece o retorno ou não, desse
ministro?
Essa pergunta depende do seu
retorno ao mesmo ministério ou mesma convenção, ou em outro ministério. Se for
ao mesmo ministério ou convenção, quem o poderá decidir se ele deve ou não
retornar?
Conheço um outro ministro, que
pecou e ao ser excluído, perdeu todos os privilégios ministeriais e
financeiros. Passou pela prova e com muitas dificuldades, retornou ao convívio ministerial.
Porém não deram um novo campo. O seu pastor o tratava com desdém e humilhação. Ele
não tinha a quem recorrer. Ninguém lhe dava confiança.
Infelizmente, há pastores que se
sentem em uma posição ao lado de Jesus. Acima de todos.
Diante de tantos desatinos
convencionais e ministeriais, já até questionei, se é necessário realmente uma
convenção para pastores? Algumas convenções são piores que Câmaras de Vereadores.
Inimizades, palavras torpes e linguajar inadequado; tramas e traições, amores e
rancores, retaliações e armações são o cotidiano de algumas convenções e
ministérios. Esquecemos de que somos servos e não senhores. Somos propriedades
e não proprietários.
Sexta questão: Há fatos bíblicos paralelos de homens de Deus que pecaram e foram
restituídos?
Há sim. Davi, Sansão, Jonas, Pedro,
e outros. Todos estes tiveram uma segunda chance. Se fosse hoje nas nossas
igrejas e ministérios, eles jamais retornariam. Salvos, se tivessem uma boa
quantia de dinheiro para ajudar a obra. Infelizmente essa é a nossa triste
realidade. Cada um lutando pelo seu próprio interesse.
Dai surge a sétima e última
questão, sem querer esgotar o assunto:
Sétima questão: O que de fato acontece hoje nas igrejas e
convenções?
Aconselho humildemente aos que
desejam o episcopado: Busquem direção de Deus. Não entrem no ministério, sem a
devida chamada de Deus, pois, se for chamado, Deus o capacitará. Mas se apenas
desejar, não permanecerás, ou se tornarás iguais a ao joio.
Para os que estão fora do
ministério cristão, eles nos veem como superiores mais santos e mais abençoados
que eles. O alto padrão de vida de muitos pastores ostentando seus carros
novos, suas casas confortáveis, suas participações em eventos de grande porte
nas cidades, deixam muitos dos aspirantes ao ministério, com pensamentos
impuros e avarentos. Lutam por posições, a ponto de até falsificar assinaturas e
documentos para serem consagrados. Uma verdadeira babel.
Quanta fantasia, máscaras,
inovações, brilhos e eloquências destruidoras. Quanta arrogância daqueles que
detém o poder de colocar e tirar quem eles querem nos campos e igrejas. Não se
admirem se virem pastores caírem endemoninhados nos púlpitos. Não se
escandalizem se obreiros no terceiro casamento, forem consagrados a pastores e
ocuparem cargos de destaque e importância no ministério.
“ Estes são os escolhidos em vossos ágapes, quando se banqueteiam
convosco, pastores que se apascentam a si mesmos sem temor; são nuvens sem
água, levadas pelos ventos; são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes
mortas, desarraigadas; 13 ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias
torpezas, estrelas errantes, para as quais tem sido reservado para sempre o negrume
das trevas. 14 Para estes também
profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor com
os seus milhares de santos, 15 para
executar juízo sobre todos e convencer a todos os ímpios de todas as obras de
impiedade, que impiamente cometeram, e de todas as duras palavras que ímpios
pecadores contra ele proferiram. 16 Estes são murmuradores, queixosos, andando
segundo as suas concupiscências; e a sua boca diz coisas muito arrogantes,
adulando pessoas por causa do interesse”. Jd. 1:12-16.
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